quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Minhas meninas

Ela. Acorda sorrindo, se olhando no espelho e fazendo tranças. Sai andando descalça pela casa, cantarolando trechos de músicas livres e desenhando flores na umidade das janelas. São flores iguais a de seu vestidinho, flores irmãs das que estão jogadas pela grama do lado de fora. Ela toma um café e tem devaneios com a fumacinha da xícara. Ela é ela.

A outra. Toca o despertador e ela pula da cama. Escova os dentes ao mesmo tempo que luta com a espuma para praguejar contra o cabelo que não está no lugar. Liga o som e joga as coisas na bolsa, enquanto a bateria, o baixo, a guitarra se arrastam e alastram nas paredes que possuem sombras de um dia que devia estar menos ensolarado. O coração está acelerado e apressado. Sai sem comer e devia parar de roer unhas. A outra é a outra.

A terceira. Abre os olhos e gargalha. Hoje é o dia. Abre as cortinas, o vento entra e o cabelo dança em seu rosto. O coração acelera e fica calmo ao som da própria voz, os pés chacoalham e não há planos. Sai pela porta e entra por outra, abre uma janela e senta. Assovia e grita. Ri. É hora de enlouquecer. Joga tudo no chão, deita na grama de coisas espalhadas. Ah! As flores! Bem-me-quer, mal-me-quer, tanto faz. A terceira é a terceira.

São quantas elas, quantas outras, quantas terceiras e infinitas. Todas elas constituem, cantam em conjunto, dançam diferente umas das outras. Todas elas fazem quem eu sou, moldam o meu eu, o mim, o me. Regidas ao gesto do meu querer e desejar, são a minha orquestra. Não adianta, é assim. Eu sou eu.


Bruna Bugana

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Crianças

Somos crianças
Filhos dos nossos erros
Desesperados pelo ter na esperança
Guiados pelo medo

Trocamos figurinhas
Sujos de lama
De cúmplice você me chama
De mãos dadas as sombras caminham

Mas já ficou escuro, um Sol sem brasa
Vamos juntar os brinquedos
Ainda somos os mesmos
Hora de ir pra casa

A brincadeira não acabará
Só brincaremos de forma diferente
Despido-me com beijos seus
Mas isso não ameniza a dor do adeus.


Bruna Bugana