sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Digestão amorosa

No período da paixão eles se revelam verdadeiros homens. Cavalheiros, protetores, carinhosos. Dignos da raça. "O que é isso?! Eu jamais trataria uma mulher assim!", "Não, não. Eu entendo perfeitamente!". Pois é, nós também entendemos! A esperança nos chega com um prato cheio dizendo "Aqui está ele!" , nos deliciamos e é realmente saboroso aproveitar toda a masculinidade que te toma pelas mãos, beija seu rosto e diz que está tudo bem. Isso tudo desce pela laringe como flores de primavera. Fácil mastigar, fácil engolir. Isso mesmo, engula!

Agora, espere um pouco, moça. Vai ver o que é mal estar. Toda aquela masculinidade apodreceu, o cavalheirismo diluiu-se em grosseria e a compreensão em insensibilidade. Você não sabe o que fazer e por isso tentará de tudo para curar o corpo da ferida que começa a proliferar-se. Quando as flores murcham apenas os espinhos ficam e aí vem uma dose de sacrifícios ali, outras doses de agradozinhos aqui e alguns ml's de ginástica, talvez você esteja só fora de forma. Mas a dor continua e os espinhos te espetam por dentro tentando te convencer que tudo é apenas tensão pré-menstrual.
Dor, dor e mais dor. A irritação chega. "Que diabos eu estou fazendo com essa coisa dentro de mim?". Ingere umas pílulas de amor próprio, quiçá seja a solução.

Opa! Está sentindo algo, não está? Hora de expelir, isso já não presta para você.
Muito bem. Leveza. Olha para tudo aquilo e sem dúvidas, não são flores. Você está livre, meu bem. Vá, vá! É bom você tirar esse coração daí de dentro porque o desejo por aquela coisa que te fez tão mal foi gerado dentro dele. Mas espere um pouco! Você pode fazer isso daqui a pouco, não é mesmo? Afinal, bateu uma fome.




Bruna Bugana

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Vento

Entro, invado, destruo
Para onde for inalado
Até o inabitado
E quando quiser
Eu recuo

Na calmaria, brisa
Na ousadia, furacão
Balanço saia de poetisa
Arranco berros de virotão

As ondas conduzo
Assovios confusos
Nuvens eu trago
Voo e vago

Não há cela
Nem há prisão
Até o toque é
Minha decisão.

O que não se vê
Também é verdade
Eu sou livre
Eu sou liberdade.


Bruna Bugana

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Minhas meninas

Ela. Acorda sorrindo, se olhando no espelho e fazendo tranças. Sai andando descalça pela casa, cantarolando trechos de músicas livres e desenhando flores na umidade das janelas. São flores iguais a de seu vestidinho, flores irmãs das que estão jogadas pela grama do lado de fora. Ela toma um café e tem devaneios com a fumacinha da xícara. Ela é ela.

A outra. Toca o despertador e ela pula da cama. Escova os dentes ao mesmo tempo que luta com a espuma para praguejar contra o cabelo que não está no lugar. Liga o som e joga as coisas na bolsa, enquanto a bateria, o baixo, a guitarra se arrastam e alastram nas paredes que possuem sombras de um dia que devia estar menos ensolarado. O coração está acelerado e apressado. Sai sem comer e devia parar de roer unhas. A outra é a outra.

A terceira. Abre os olhos e gargalha. Hoje é o dia. Abre as cortinas, o vento entra e o cabelo dança em seu rosto. O coração acelera e fica calmo ao som da própria voz, os pés chacoalham e não há planos. Sai pela porta e entra por outra, abre uma janela e senta. Assovia e grita. Ri. É hora de enlouquecer. Joga tudo no chão, deita na grama de coisas espalhadas. Ah! As flores! Bem-me-quer, mal-me-quer, tanto faz. A terceira é a terceira.

São quantas elas, quantas outras, quantas terceiras e infinitas. Todas elas constituem, cantam em conjunto, dançam diferente umas das outras. Todas elas fazem quem eu sou, moldam o meu eu, o mim, o me. Regidas ao gesto do meu querer e desejar, são a minha orquestra. Não adianta, é assim. Eu sou eu.


Bruna Bugana

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Crianças

Somos crianças
Filhos dos nossos erros
Desesperados pelo ter na esperança
Guiados pelo medo

Trocamos figurinhas
Sujos de lama
De cúmplice você me chama
De mãos dadas as sombras caminham

Mas já ficou escuro, um Sol sem brasa
Vamos juntar os brinquedos
Ainda somos os mesmos
Hora de ir pra casa

A brincadeira não acabará
Só brincaremos de forma diferente
Despido-me com beijos seus
Mas isso não ameniza a dor do adeus.


Bruna Bugana

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Cicatriz

Seus lábios e os meus. Doce e fúnebre.
Meus olhos soltam as lágrimas, meu nariz solta uma respiração nostálgica, minha mente solta o desespero, enquanto suas mãos soltam as minhas. Falta o abraço, falta o sorriso, faltam palavras. O choro não falta.
Se existe algo pior que despedida, apenas despedidas. Essa foi a pior delas. Talvez porque a qualidade de quem se despede é inversamente proporcional à dor do adeus.
Você foi diferente e ainda é. Se fomos rivais, companheiros ou amantes, não importa. Temos um ao outro da forma que somos. Pessoas ao meio do furacão, sim, aquele mesmo furacão que citei em seu ouvido e o mesmo que originou a queda.
Quando fomos contra o chão nossos corpos se encontravam. Ficaram machucados. Porém, como todo machucado, este se tornará uma cicatriz. No começo pode ser que ao olhá-la, as lembranças causem arrepios e nos arremate para um quarto escuro de boas intimidades futuras que agora são o pior pesadelo. Mas tenho certeza que um dia vamos olhá-la com orgulho e acender a luz do cômodo.
Você me ouviu e eu te ouvi, você me beijou e eu te beijei, você me amou e eu te amei. Do jeito certo nos nossos erros. Se houvesse algo a reparar, transformaria-me tão mulher quanto você homem.
Foram poucos capítulos de muitas páginas e hoje é a tentativa de amadurecer os personagens da história. Não acredito em sorte, mas se existisse, diria que foi a maior e melhor de todas. Uma outra peça do meu jogo da memória. Dessa vez, não vou definir como apenas uma escolha. Foi mais e melhor.
Seus lábios sem os meus. Amargo e reparador.


Bruna Bugana

terça-feira, 27 de julho de 2010

Fênix

Garrafas sem cartas
Paredes com marcas
Mãos quietas
Olhos em alerta

Cabelo vermelho
Vazio espelho
Maquiagem espalhada
Possíveis escapadas

Segredos guardados
Desejos selados
Coração que espera
Boca que atrela

São escolhas certas
E não escolhas de sorte
Ela espera pela vida
E sua vida pela morte.


Bruna Bugana

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Quiçá

A minha vida, meus amores, minhas dores. Nada é igual, mas ainda a mesma.
Ontem acordei cedo e fui resolver meus problemas. Ao som de música popular brasileira elaborei planos e quis ficar com os amigos. No chuveiro uma melodia alegre, sorriso no rosto, beijos de graça e o relógio correndo.
Hoje, ao despertar, resolvi ficar na cama. Solos de guitarras magoadas acariciavam o cinza do dia e minha pele seca. Queria ficar comigo enquanto o ponteiro se arrastava, um gosto ruim e saudável na boca. Serpentes de Luz del Fuego e armas de Quitéria. Sem planos, sem expectativas.
Amanhã. Quiçá doçura ou ojeriza, calor ou frio, dança ou luta. Acredite ou não, ainda a mesma. Quiçá.



Bruna Bugana

terça-feira, 6 de julho de 2010

Equilibrista

Daqui de cima tudo fica tão pequeno. Não sei se é o egoísmo ou a solidão acolhedora que não me faz querer descer. Meus problemas, meus medos ou minhas lágrimas não abalam este fio. Por mais que, para muitos, viver aqui em cima seja um perigo, para mim é um refúgio. Eu vivo do meu equilíbrio. Meus pés são os únicos responsáveis por mim e pelo meu firmamento. Eu ando como desejo e vou aonde quiser. Foi assim e sempre será.
Ei! O que é isso? O que você está fazendo? Tire já esta mão daí! Não estou brincando! Essa corda é minha vida, se continuar balançando eu vou cair! Eu já falei! Por que não me derruba logo? Não me segure! Eu vou para onde eu decidir, não você. Solte-me!
Isso! Muito bem. Coloque-me onde eu estava! Isso! Agora sim. Mas por que a corda ainda balança? Não, não, não! Eu preciso do meu equilíbro, volte! Eu preciso daquilo que você levou! Pare essa corda! Volte! Por favor! Eu preciso de você. Não vá embora. Não vá!

Eu não consigo me levantar, estou agarrada no meu fio. Não posso chorar, pois qualquer distração me fará cair. Eu preciso daquele ser, eu preciso ter de volta minha capacidade de me equilibrar.
Daqui de cima fica tudo tão pequeno. Triste e só.


Bruna Bugana

sábado, 29 de maio de 2010

Novo Andrajo

Eu vivo acordando de mau humor
Eu vivo praguejando contra o calor
Eu vivo cantando no chuveiro
Eu vivo de choros passageiros

Eu vivo rindo alto demais
Eu vivo odiando o bom rapaz
Eu vivo buscando minha identidade
Eu vivo cheia de bipolaridade

Eu vivo aconselhando quem amou
Eu vivo à base de Rock n' Roll
Eu vivo esquecendo o que ia dizer
Eu vivo sofrendo por tanto querer

Eu vivo me vendo com quilos a mais
Eu vivo comendo, pra mim tanto faz
Eu vivo amiga do medo fugitivo
Eu vivo na certeza de que eu vivo


Bruna Bugana

terça-feira, 11 de maio de 2010

Sul real

Sonhei com nosso futuro palpável e distante. Estava lá com com cabelos cacheadinhos, tão pequenininho e os olhos seus me ligavam a ti em uma espiral alucinante dentro do peito. Corria para meus braços e voltava para te encontrar, desenhando um laço imaginário, unindo norte e sul. Que futuro espertinho! Sorria para mim, gargalhava para você. Te envolvia nas mãos, me convidava para entrar.
Foi quando você me olhou e tudo fez sentido. O terceiro elemento do elo tríplice era o ''nós'' em um só ser. Se houver só um, não há mais nada. Pupila dilata e entro em um buraco que me traz de volta ao pesadelo.
Minha cama, meu quarto e vento frio que entra pela janela. Aquele futuro branquinho sumiu e só há sul. Não há nada. Os olhos ficam úmidos e o coração apertado. Pelo amor de Deus! Alguém me acorde!


Bruna Bugana

quarta-feira, 31 de março de 2010

Cativeiro

Sobre minha mesa seus antigos amores se espalharam
Sob meu juízo as velhas princesas amadas
Visões escurecidas, antes enaltecidas por teu ver
Ao meu julgadas e invejadas.

Fotografias aquelas que me prenderam numa fúria
Num tufão de ciúmes vermelho
Não senti alegria, egoísmo de mãos dadas comigo
Sou voyeur apenas frente ao nosso espelho.

A culpa de tamanha escravidão pertence a você
Viciou-me e se escondeu
Rasgo seu passado, guardo teu futuro
A ninguém pertencerá, serás exclusivamente meu.


Bruna Bugana

terça-feira, 23 de março de 2010

Colcha de Retalhos

Mais tecido! Mais linha! Vamos, vamos! Oh não, essa cor não! Nossa! Como está grande! Mas ainda falta muito. Alguém viu aquela minha estampa favorita? São tantas lembranças costuradas, sonhos remendados e ponto cruz em tantos objetivos!
Sentada aqui, observando o trabalho já feito, fico imersa na vastidão de cores, um mosaico de flores e tecidos lisos. Cada fiapo constitui o que fui e, consequentemente, o que sou.
Fui um pedacinho de tecido novo e nêutro, hoje sou um retalho muito mais belo e colorido e amanhã serei hoje, o que fui.
Os meus panos só se repetem quando quero costurá-los. Se há o risco de desfiar alguma parte da minha obra de arte, espere um minutinho, vou buscar uma linha mais grossa.
Quando as mãos doem e os olhos ficam cansados com o zigue-zague de agulhas e alfinetes, é só olhar para tudo que já costurei que a alegria do meu arco-íris com mais de sete cores me inunda e eu clamo por mais tecidos! Afinal, eu sou a minha colcha de retalhos. E faça-me um favor? Devolva-me este alfinete ou você acabará furando-se.


Bruna Bugana

quarta-feira, 3 de março de 2010

Se sou teu

Se espera consolo, sou a ti amor.
Se desejas carinho, dou a ti fervor.
Se me amas como amigo, sou a ti, senhor.

Se no inverno frio, a ti cobertor.
Se a raiva inunda-te, bajulador eu sou.
Se pedes ajuda, eu, provedor.

Mas se me repele, manda embora
Não sou teu bem, minh' alma chora
Beijo teus lábios com ardor
Adeus querida, seu eterno sofredor.


Bruna Bugana

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Sopro

O vento sopra e ela fecha os olhos. Por um momento não existe mundo, só a vida. Ela sorri internamente enquanto a pele se arrepia pelo desejo contínuo de ser sempre assim. A incredulidade já não é mercênior dos seus pensamentos e deles epitáfios são vomitados a respeito do seu eu que se esvaiu. Sente ter acordado de um pesadelo ou começado a sonhar. A patrística interior dissipa-se e tudo há de ser dividido. Tantas razões que perdem a razão. Viva! Ardente! É assim que deve ser, é assim que ela quer. Ela abre os olhos, alí ele está e o vento sopra.


Bruna Bugana

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Morte do batimento

Seu caixão desce, mergulhado no ácido das palavras mortas. Sentirei sua falta, companheiro; mas por favor entenda, não foi escolha minha. A companhia da solidão será mais fácil sem você, o perdão mais protegido, os dias mais gris e as janelas da alma vigiadas por muros. Embora a frieza ocupe teu lugar, sempre te amarei mais.
Você faz, ou melhor, fez parte de mim e levarei comigo algumas lições ensinadas por ti. Os tapas na face cavaram a tua cova, porém não me iro contra eles; foram necessários para aprender o tamanho das mãos que aperto. É uma pena que tu sejas enterrado junto à consideração. Espero saber caminhar sem ti, companheiro. Leio sua lápide pela última vez, onde diz: " Aqui jás o grande bom coração". Farás falta. Adeus.


Bruna Bugana

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Leiva

Sentou-se. Deixou que aquele único feixe de luz iluminasse aquele lugar, o seu próprio medo. Viu-se à margem de sua própria existência, tentando ser melhor do que não era. Em sua boca, o gosto amargo da compaixão pelos próprios planos, nos olhos uma escuridão melhor do que qualquer claridade e suas asas já não passavam de um fruto imaginário. Tudo que cresce, chega a um ápice para que decline, resultando em um fim. Mas como conhecer o limite? Já que o hoje resume-se ao foi e ao será; À lembrança e à esperança; O ontem e o amanhã. O hoje afogou-se dentro de sua alma. A mudez grita e a boa audição perdeu sua virtude.
Deliniava a sombra de si mesma, sem ao menos saber quem era. Uma característica que cheira à benção e maldição. Já acariciava suas correntes com um doloroso sorriso. Já não sabia se estava a ponto de desabrochar ou de murchar. Perdeu-se onde ninguém ousa descobrir.
O feixe de luz sumiu quando fechou os olhos, sentia algo congelar e endurecer feito pedra dentro do peito. Talvez haja apenas benção agora. Já possuia sua leiva. Tudo se elucidava novamente ao abrir dos olhos, porém de uma nova forma. Não havia obrigações para inadimplir, pois já conhecia sua hermenêutica.
Tudo que cresce, chega a um ápice para que decline, resultando em um fim. Até mesmo a autoescravidão.



Bruna Bugana

sábado, 16 de janeiro de 2010

Viajante

Caminhando. Desejando. Esperando. Enquanto sigo esta estrada, posso sentir o vento bater contra meu rosto, fazendo meus olhos se fecharem, porém meus pés sabem exatamente a direção certa. Minhas pernas, tão famintas quanto esperançosas, almejam o que me espera no fim deste caminho. Íngrime! Não há outra palavra que o defina tão bem.
Ao lado de onde ando a paisagem muda conforme meus pensamentos; Ora uma praia, ora uma floresta, ora deserto, onde sei que o verdadeiro oasis se encontra no fim desta jornada.
Já faz um tempo que ando, por isso meus calçados estão surrados. Nunca parei para descançar. Cheguei a encontrar outras pessoas na estrada, todas na mesma direção que eu, mas estas seguem atalhos incertos para o fim de suas próprias estradas e eu continuo aqui. Nasce dia, morre noite, eu continuo aqui. Sendo movida pela imagem, que não sei se vivi ou se sonhei, mas que mora em mim de maneira tão forte que dirige meu corpo.
Continuarei andando até encontrar o fim desta estrada, onde me aguarda o verdadeiro destinatário da nova velha carta e quando encontrá-lo não terei mais nenhum caminho, nenhuma direção para seguir. Quero dizer, não sozinha.


Bruna Bugana

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

À velha carta

Te escrevi com paixão, tuas letras eu formei com cuidado para que passasse ao amado destinatário o lindo abstrato que habitava em mim. Derramei lágrimas de alegria sobre ti, mas as enxuguei para que não se manchasse e alterasse aquelas palavras de amor. Te analisava para que em ti não houvesse nenhum sinal incorreto, assim como não havia em mim. Quando terminei de preencher-te, a apertei com zelo contra meu peito, ah, agora era impossível distinguir onde habitava o calor. Beijei teu centro enquanto mais lágrimas alegres rolavam. Seca folha cheia de emoção. Te guardei num envelope onde havia borrifado meu perfume e te encaminhei a quem aquelas palavras pertenciam.
O tempo passou. As lágrimas alegres secaram e deram lugar a outro tipo de lágrima, mas estas, por sua vez, também secaram.
Queria hoje trazer-te de volta para mim. Não porquê tuas sílabas perderam seu valor. Apenas cometi um engano: o tal destinatário não era o dono ou sequer merecedor de tais palavras. Por isso, te guardaria em minha gaveta até teu verdadeiro destinatário aparecer.
E o tempo passa.


Bruna Bugana

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Cigano

Não me venha com seus truques e feitiços
Já entendi a tua dança, menino.
Sei da tua fama, você não me engana,
Queres meu coração partido.

Mal sabes tu que o nômade não trapaceia a anfitriã
Não fazes ideia de que conheço tua laia
Queres que ao teus pés eu caia,
Mas acredite, das tuas peças eu sou a artesã.

Meu coração tu não roubarás cigano faceiro
Enrolas a corda sobre teu osso
Enquanto enrolo-a em teu pescoço
O feitiço vira contra o feiticeiro.


Bruna Bugana