sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Armageddon

Minha caixa isolada é meu obtuário. Os ponteiros fazem o pacto cruel de lentidão dolorosa para zombar dos que valorizam seu serviço. O casulo submisso faz prisioneira a borboleta, a cafeteira impaciente controla as gotas do cheiro que aguarda, as nuvens vem e observando o limite de sua fumaça seguram o choro.

Minha poltrona já costurada com minha pele, me engole por compaixão na rapidez siamesa do que não existe. No manto de minhas pálpebras, no silêncio de meus devaneios, Cronos se compadece. Tudo para. E como em um casamento de coisa alguma, os movimentos estáticos entram em harmonia da noite de núpcias.

Mas passos firmes de ex-combatente atravessam o jardim desafiando a sádica mãe-natureza da espera e humilhando seus filhos. Sou descoberta em meus olhos de gato, perceptores de frequências desobedientes. Eles continuam a seguir a linha traçada. Encontram um degrau, outro e por fim, a varanda. Minhas pupílas dilatando-se na batida do peito, vê a sombra junto a porta. Os braços de guerra esticam-se e os dedos pródigos suspiram frente à campainha.

Estrondo. Subitamente um trovão combinado com o som do juízo final anuncia a volta da vida. Na ausência de onomatopéias, minh' alma como um corpo que acha a superfície após afogamento em incertezas, puxa o ar e arrancando-se de seu parasita, suga a energia para romper barreiras dimensionais entre mundos.

A borboleta é liberta, o café pinga, a porta abre. Cerimônias diluem-se diante da glória do retorno. Olhos por olhos, lábios por lábios. A chuva sela a união temporal perfeita.


Bruna Bugana

1 manifestações que abriram meu sorriso.:

Helvecio disse...

Passando para abrir um sorriso em um certo alguém. :)

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